Da Juventude da Metrópole à Juventude de Macau: o Portugal Novo que ambicionamos construir : palavras proferidas na sessão de leitura da mensagem da Juventude da Metrópole à Juventude de Macau, no Teatro D. Pedro V, em Agosto de 1965:
Exmas. Autoridades
Minhas Senhoras
Meus Senhores
Colegas
Saí de Lisboa com o firme propósito de recolher o maior número de elementos
sobre Macau, a fim de ulteriormente os divulgar à Juventude da Metrópole.
Desta terra que é tão diferente, para quem conhece somente a Metrópole ou
algumas Províncias Ultramarinas de África, eu pretendo colher elementos para um trabalho
sobre a sua cultura e a sua gente. A ele me tenho dedicado com o máximo empenho
e, desde já, agradeço aos organismos e pessoas que, gentilmente, me têm
esclarecido e aos que quiserem ter a bondade de o fazer, durante a minha
estadia.
Macau é, dentro do conjunto português, um caso único. Noutras paragens,
onde Portugal chegou para construir mais Portugal, deparámos com culturas que
aderiram aos nossos usos, costumes e tradições.
É muito curioso o que se passou com os Reis do Congo. Abraçaram o Cristianismo;
baptizavam-se com os nomes dos Reis de Portugal; hierarquizaram a sua sociedade
à maneira tradicional portuguesa; mandaram seus príncipes a Portugal, a
ordenarem-se sacerdotes; e pediam ao
nosso Rei que lhes enviasse gente para lhes transmitir a forma como se vivia em
Portugal. E o Rei lhes mandou portugueses dos melhores, com a incumbência de,
aos naturais, tratarem como irmãos. E foram padres e militares e comerciantes.
A luz do Cristianismo foi-se difundindo pelo Mundo. A Paz do Reino e a força do
Rei construíram outras parcelas de Portugal.
Assim se foi construindo Portugal no Mundo. Não apenas combatendo mas,
principalmente, aculturando.
Macau foi como que o vestíbulo de entrada do Cristianismo na China. Daqui
partiram os primeiros missionários para o interior do milenário Império do Meio
e que, também, aportaram ao Japão, para fundarem as primeiras Missões.
Constatei, neste magnífico Oriente, que Cristão e Português se identificam
em sinonímia. Em Hong Kong, por exemplo, perguntaram-me se era italiano.
Respondi que era português e o meu interlocutor retorquiu: “Eu também sou
Cristão”.
Reparem bem: Portugal, mais identificado com o Cristianismo, do que a
Itália que tem por capital a cidade-mãe da Cristandade.
Tudo isto é sobejamente provado pela acção histórica da Diocese de Macau que tem exercido o seu magistério em
territórios onde a soberania portuguesa nunca se exerceu ou de que, há muito,
deixou de se exercer.
A quatrocentos anos de distância, a luz que irradia do apostolado de S.
Francisco Xavier, discípulo da missionação de S. Paulo, mantem-se viva e tem
sido seguida, geração após geração, adaptando-se a circunstâncias de tempo e de
lugar.
Por tudo isto, em nome da Juventude
das restantes parcelas de Portugal, presto homenagem a Sua Excelência
Reverendíssima o Senhor Bispo, ao Clero e aos Cristãos de Macau.
Não posso esquecer a população não Cristã, que aqui vive e trabalha
pacificamente, a que desejo bem estar e muita prosperidade.
Para a Juventude de Macau, trago uma mensagem de fé e de confiança no
futuro.
Nos tempos que correm, a par das ideologias, a Juventude é permeável a
certos facilitismos desagregadores de sistemas educativos consolidados e para
os quais não se vislumbram alternativas credíveis.
Resulta daí a necessidade inadiável de “orientar-doutrinando” e
“esclarecer-informando”. Esta é a via segura para distinguir o essencial do
acessório; para planear as etapas da vida no curto, médio e longo prazo; para
diminuir ou extinguir o insucesso e potenciar o sucesso, individual e
colectivo.
Estabeleceram-se, no Mundo actual, padrões de vida para a Juventude que lhe
acarretam uma inquietação mais pronunciada do que aquela que sentiram as
gerações que nos precederam. Daí têm resultado comportamentos avessos a rigores
excessivos, à autoridade dos pais e dos professores e à disciplina social.
A Mocidade Portuguesa, infelizmente, no seu papel de Organização Nacional
da Juventude, não tem conseguido desempenhar a missão eminentemente educativa
que lhe compete. Faltam-lhe quadros, meios materiais e ineditismo de técnicas
que tornem as suas actividades atraentes, por forma a chamar a Juventude ao seu
seio.
Luta-se em frentes de guerra latente e em retaguardas de peleja ideológica
para manter um Património Espiritual e Humano que permaneça Português no
futuro. Sem preparação adequada da Juvetude, todo o esforço de hoje, poderá não
ter continuidade amanhã, perdendo-se no futuro, o que estamos defendendo no presente.
Torna-se necessário que se actualizem os métodos, se revejam os meios e se
valorizem os quadros.
Não se atrai a Juventude com o militarismo de “formações e evoluções”,
vulgo “marcar passo”. Nem com “slogans” estafados, no turbilhão materialista avassalador
do nosso tempo.
Uma Mocidade Portuguesa atractiva, civilista
e prestigiada, activamente inspirada no brocardo Mens sana in corpore
sano há-de firmar-se nas infinitas alternativas oferecidas à Juventude,
pela Cultura, pela Ciência e pelo Desporto, desde a sua iniciação, enquanto Lusitos,
Infantes e Vanguardistas, até à entrada na vida adulta, dos Cadetes.
Estou convencido e, para isso, faço os mais ardentes votos que, no próximo
ano lectivo, a Juventude de Macau contará com mais generosos meios materiais e
melhores quadros, preenchidos com gente capaz de conferir ineditismo e atracção
às suas actividades.
Segue-se a leitura da Mensagem da Juventude da Metrópole para a Juventude
de Macau.