Wednesday 6 April 2022

 Da Juventude da Metrópole à Juventude de Macau: o Portugal Novo que ambicionamos construir : palavras proferidas na sessão de leitura da mensagem da Juventude da Metrópole à Juventude de Macau, no Teatro D. Pedro V, em Agosto de 1965: 

 

Exmas. Autoridades

Minhas Senhoras

Meus Senhores

Colegas

 

Saí de Lisboa com o firme propósito de recolher o maior número de elementos sobre Macau, a fim de ulteriormente os divulgar à Juventude da Metrópole.

Desta terra que é tão diferente, para quem conhece somente a Metrópole ou algumas Províncias Ultramarinas de África, eu pretendo colher elementos para um trabalho sobre a sua cultura e a sua gente. A ele me tenho dedicado com o máximo empenho e, desde já, agradeço aos organismos e pessoas que, gentilmente, me têm esclarecido e aos que quiserem ter a bondade de o fazer, durante a minha estadia.

Macau é, dentro do conjunto português, um caso único. Noutras paragens, onde Portugal chegou para construir mais Portugal, deparámos com culturas que aderiram aos nossos usos, costumes e tradições.

É muito curioso o que se passou com os Reis do Congo. Abraçaram o Cristianismo; baptizavam-se com os nomes dos Reis de Portugal; hierarquizaram a sua sociedade à maneira tradicional portuguesa; mandaram seus príncipes a Portugal, a ordenarem-se sacerdotes; e  pediam ao nosso Rei que lhes enviasse gente para lhes transmitir a forma como se vivia em Portugal. E o Rei lhes mandou portugueses dos melhores, com a incumbência de, aos naturais, tratarem como irmãos. E foram padres e militares e comerciantes. A luz do Cristianismo foi-se difundindo pelo Mundo. A Paz do Reino e a força do Rei construíram outras parcelas de Portugal.

Assim se foi construindo Portugal no Mundo. Não apenas combatendo mas, principalmente, aculturando.

Macau foi como que o vestíbulo de entrada do Cristianismo na China. Daqui partiram os primeiros missionários para o interior do milenário Império do Meio e que, também, aportaram ao Japão, para fundarem as primeiras Missões.

Constatei, neste magnífico Oriente, que Cristão e Português se identificam em sinonímia. Em Hong Kong, por exemplo, perguntaram-me se era italiano. Respondi que era português e o meu interlocutor retorquiu: “Eu também sou Cristão”.

Reparem bem: Portugal, mais identificado com o Cristianismo, do que a Itália que tem por capital a cidade-mãe da Cristandade.

Tudo isto é sobejamente provado pela acção histórica da Diocese  de Macau que tem exercido o seu magistério em territórios onde a soberania portuguesa nunca se exerceu ou de que, há muito, deixou de se exercer.

A quatrocentos anos de distância, a luz que irradia do apostolado de S. Francisco Xavier, discípulo da missionação de S. Paulo, mantem-se viva e tem sido seguida, geração após geração, adaptando-se a circunstâncias de tempo e de lugar.

Por tudo isto, em nome da  Juventude das restantes parcelas de Portugal, presto homenagem a Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Bispo, ao Clero e aos Cristãos de Macau.

Não posso esquecer a população não Cristã, que aqui vive e trabalha pacificamente, a que desejo bem estar e muita prosperidade.

Para a Juventude de Macau, trago uma mensagem de fé e de confiança no futuro.

Nos tempos que correm, a par das ideologias, a Juventude é permeável a certos facilitismos desagregadores de sistemas educativos consolidados e para os quais não se vislumbram alternativas  credíveis. Resulta daí a necessidade inadiável de “orientar-doutrinando” e “esclarecer-informando”. Esta é a via segura para distinguir o essencial do acessório; para planear as etapas da vida no curto, médio e longo prazo; para diminuir ou extinguir o insucesso e potenciar o sucesso, individual e colectivo.

Estabeleceram-se, no Mundo actual, padrões de vida para a Juventude que lhe acarretam uma inquietação mais pronunciada do que aquela que sentiram as gerações que nos precederam. Daí têm resultado comportamentos avessos a rigores excessivos, à autoridade dos pais e dos professores e à disciplina social.

A Mocidade Portuguesa, infelizmente, no seu papel de Organização Nacional da Juventude, não tem conseguido desempenhar a missão eminentemente educativa que lhe compete. Faltam-lhe quadros, meios materiais e ineditismo de técnicas que tornem as suas actividades atraentes, por forma a chamar a Juventude ao seu seio.

Luta-se em frentes de guerra latente e em retaguardas de peleja ideológica para manter um Património Espiritual e Humano que permaneça Português no futuro. Sem preparação adequada da Juvetude, todo o esforço de hoje, poderá não ter continuidade amanhã, perdendo-se no futuro, o que estamos defendendo no presente.

Torna-se necessário que se actualizem os métodos, se revejam os meios e se valorizem os quadros.

Não se atrai a Juventude com o militarismo de “formações e evoluções”, vulgo “marcar passo”. Nem com “slogans” estafados, no turbilhão materialista avassalador do nosso tempo.

Uma Mocidade Portuguesa  atractiva, civilista e prestigiada, activamente inspirada no brocardo Mens sana in corpore sano há-de firmar-se nas infinitas alternativas oferecidas à Juventude, pela Cultura, pela Ciência e pelo Desporto, desde a sua iniciação, enquanto Lusitos, Infantes e Vanguardistas, até à entrada na vida adulta, dos Cadetes.

Estou convencido e, para isso, faço os mais ardentes votos que, no próximo ano lectivo, a Juventude de Macau contará com mais generosos meios materiais e melhores quadros, preenchidos com gente capaz de conferir ineditismo e atracção às suas actividades.

Segue-se a leitura da Mensagem da Juventude da Metrópole para a Juventude de Macau.

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