Thursday, 24 November 2011

Cavaco II - Partir ou ficar



A cerimónia de investidura que assinalou o início do segundo mandato de Cavaco Silva nas funções de Presidente da República Portuguesa deixou-me a ideia de que Portugal se tornou num país surreal.

O discurso do Presidente da República pareceu-me o de um extra-terrestre que desembarcou subitamente em S. Bento e que nada tem a ver com quem esteve em Belém nos últimos cinco anos.

Será a distância destes milhares de kilómetros que provoca uma leitura desajustada do discurso presidencial? Talvez. Talvez também a distância seja responsável pela nota negativa que daria a todos os entrevistados que comentaram o discurso do Presidente, se fossem meus alunos de Ciência Política.

Mas a propósito de distância, o que me apetecia era ter podido contar a todos os que assistiram à investidura do Presidente da República a seguinte história, protagonizada por um velho diplomata português e um jovem em início de carreira na mesma profissão:

- Francamente, senhor Embaixador, devo confessar que não percebo o que correu mal na nossa História. Como é possível que nós, um povo que descende das gerações de portugueses que "deram novos mundos ao mundo", que criaram o Brasil, que viajaram pela África e pela Índia, que foram até ao Japão e a lugares bem mais longínquos, que deixaram uma língua e traços de cultura que ainda hoje sobrevivem e são lembrados com admiração, como é possível que hoje sejamos o país mais pobre da Europa ocidental.

O embaixador sorriu, benévolo e sábio, ao responder ao seu jovem colaborador:

- Meu caro, você está muito enganado. Nós não descendemos dessa gente aventureira, que teve a audácia e a coragem de partir pelo mundo, nas caravelas, que fez uma obra notável, de rasgo e ambição.

- Não descendemos? - reagiu, perplexo, o jovem diplomata - Então de quem descendemos nós?

- Nós descendemos dos que ficaram cá...

Macau: Ponto Final: 11 de Março de 2011

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