Thursday, 17 June 2021

A Igreja Católica em Macau e eu

e-mail aos Rev.˚s Padres Sequeira e Domingos.

Desculpe-me aborrecê-lo.

A minha fé está sólida.

Mas, desde Setembro passado, quando regressei de dois meses de férias em Sintra, sinto um progressivo desencanto com a Igreja Católica em Macau:

- o empenho e aparato na decoração da Sé com ouro ou dourados, pratas e prateados, trono episcopal marcando a autoridade eclesiástica, mas escassas vezes ocupado pelo Bispo, parecem-me seguir em  sentido contrário à humildade da Igreja, desde o Vaticano II e, mais recentemente, com o Papa Francisco;  

- o desaparecimento do celebrante para um canto longínquo e trazeiro da capela-mór, tanto mais invisível quanto menor a sua estatura física; entre outros aspectos.

- No passado Sábado, 13 de Maio, sofri um choque inolvidável. Dirigi-me à Sé, às seis da tarde, para a missa antecipada, como faço habitualmente. A segurança da Sé barrou-me a entrada. Não me foi permitido entrar. O "espectáculo" protagonizado pelo Sr. Bispo podia ser observado em dois écrans de televisão colocados no exterior, ao lado do portão central da Sé.Não apenas eu. Antes de mim, barraram a entrada a muitos chineses de ambos os sexos e a um casal português cujo cônjuge feminino é... catequista... na Sé... Conformaram-se e viram o "espectáculo" na TV do lado esquerdo. Eu tive esperança, rezei enquanto esperava. Mas desisti. Voltei para casa.   

Eu lembro-me da dificuldade em entrar na Missa de Natal, da meia-noite. Houve uma vez que não consegui mesmo assistir à Missa. Mas nunca me foi barrada a entrada na Casa de Deus.

Durante os cinco anos e meio que vivi em Pequim, mesmo em ocasiões festivas em que milhares de chineses entravam aos tropelões e saíam do mesmo modo, após saciada a sua curiosidade bisbilhoteira, provocando autênticas ondas entre a multidão de fiéis que permaneciam até ao final da Missa, nunca me foi barrado o acesso à Casa de Deus.

Eu rezo diariamente, em casa. O terço. Leio e medito nas Leituras do Evangelho de cada Domingo.

Valerá a pena voltar a correr o risco de me ser barrado o acesso à Casa do Senhor, novamente? Ou reservar-me desse vexame enquanto durar este ciclo de pompa, cadeirão episcopal em exposição permanente, mesmo vazio de Bispo, dourados e prateados, celebrante desaparecido nas trazeiras da Capela-Mór? 

Ainda um último desgosto. Doeu-me ouvir/ler a declaração da Reitora da Universidade Católica, na sua recente visita a Macau de que: A Universidade de S. José é uma Universidade chinesa. Nestes tempos difíceis, em que altos dirigentes da China põem em causa a subsistência do princípio Um País, dois sistemas, queira Deus que não nos saia na rifa, um dia destes, a imposição da Igreja Patriótica, para controlar as dioceses de Hong Kong e Macau. 

Abraço.

Jorge Morbey 

May 18, 2017  



 

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